A Estrada do Inferno

Na restinga que separa a Lagoa dos Patos e o oceano Atlântico, no litoral gaúcho, uma estrada com nome ameaçador guarda algumas das paisagens mais isolados do sul do país, muitas belezas naturais e populações que vivem praticamente ilhadas pela dificuldade de acesso. É a Estrada do Inferno, pedaço esquecido da rodovia BR-101 que liga São José do Norte (a 326 km de Porto Alegre) e Mostardas. A rota de 150 quilómetros tem como «pavimentação» grandes areais, poças e atoleiros. Na época das chuvas, banhados invadem o caminho. Em tempos de seca, como no início de Inverno, o percurso é coberto pelos «facões», valetas traiçoeiras que riscam o terreno arenoso. É um dos lugares de culto dos amantes do off-road no sul do Brasil.

A Estrada do Inferno passa por dois dos mais belos recantos naturais do sul brasileiro: a Lagoa dos Patos (a maior do Brasil e a segunda da América do Sul, com área de mais de 10 mil km2) e o Parque Nacional da Lagoa do Peixe (um dos mais importantes refúgios de aves migratórias do continente).

Cidades e povoados espalham-se pelo caminho da Estrada do Inferno, oferecendo hospedagem modesta aos viajantes. São José do Norte (22 mil habitantes) e Mostardas (12 mil) concentram as maiores populações. A primeira caracteriza-se pelas vilas de pescadores e a proximidade com o Porto do Rio Grande (para chegar a esta cidade, basta apanhar uma balsa que atravessa a Lagoa dos Patos). Já Mostardas traz no seu casario colonial uma forte lembrança da imigração açoriana (século XVIII). A cidade também tem vindo a aproveitar a proximidade com a Lagoa do Peixe e a disponibilidade de acesso asfaltado (a partir do norte, pela BR-101) para se iniciar no ecoturismo. Toda a área cortada pela Estrada do Inferno tem relevo plano, povoado por dunas, lagoas, praias desertas e belas figueiras, árvores que se contrapõem aos horizontes rectilíneos com as suas belas formas.