Tahuantinsuyo Expedition 2006

Caxias do Sul - Bolívia – Peru (sudeste) - 10° dia

Domingo, 12/02/2006 : Copacabana x Puno (Peru) x Tiahuanaco (Bolívia) 345 Km

Hora de partida : 09:00 h

Quilometragem percorrida : Copacabana x Puno = 144 km, Puno x Tiahuanaco 201 Km (Total 245 km)

Hora de chegada : 22:00 h

Local de chegada : Tiahuanaco

Abastecimentos : Puno (32 l)



Levantamo-nos por volta de 7 horas, dirigímo-nos ao café da manhã, onde encontramos nosso amigo Nemo e sua turma, já esperando o “desayuno”, que não vinha. Juntamo-nos a mesa de nosso amigos cariocas e por volta das oito horas, fomos finalmente servidos. Tomamos o café e iniciamos o nosso ritual diário de arrumar as tralhas para seguir viagem. Íamos para Puno no Peru, para visitar os famosos “UROS”, ilhas flutuantes feitas de um junco conhecido por “totora”, enquanto nosso amigos do Rio de Janeiro seguiriam para Oruro, cidade para onde iríamos no dia seguinte.

Chegamos à fronteira de Bolívia com Peru, onde mais uma vez fomos bem tratados nas aduanas tanto boliviana quanto peruana. No lado boliviano, nenhum problema exceto pelo fato de neste momento também estar na aduana uma horda de alemães que veríamos mais adiante no lado peruano, extremamente mal educados e grosseiros. Papeis carimbados, cruzamos o arco que marca a divisa. estávamos em Kazani, no Peru !





Mantendo o padrão burocrático de nossos países sul-americanos, primeiro entramos na imigração, onde o funcionário cumprindo regras, exigiu que cada pessoa se apresentasse com seu passaporte e não um só com todos, mesmo que fosse possível identificar as pessoas pelas fotos. Feito isso, documentos liberados, pedimos ao funcionário se era possível colar nos vidros da janela um adesivo de nosso Jeep Clube de Caxias do Sul, ao que ele concordou, até porque haviam centenas de adesivos colados. Colamos o adesivo, solicitamos permissão para tirar uma foto, com o que também concordou o funcionário, o que foi motivo de revolta de alguns alemães que estavam sendo atendidos, que esbravejando de maneira estúpida, grosseira e mal educada diziam que não podíamos fazer aquilo, como se estivessem eles em seu país.

Não demos a mínima importância às manifestações psicóticas dos mal-educados, agradecemos ao gentil funcionário, passamos pelo grupo que lembrava uma formação nazista sem lhes dar a mínima atenção, o que seguramente deve ter lhes causado uma tremenda enxaqueca, e nos dirigimos à segunda parte da burocracia que estava no outro lado da rua e onde se deveria em primeiro lugar passar pelos militares que verificavam os documentos do carro para depois preencher um documento com todos os dados do veículo e das pessoas que estavam junto, para só então seguir viagem, costeando agora o lago Titicaca, que nos oferecia também paisagens tão maravilhosas como no trajeto Achacachi – Tiquina onde se margeia o lago Humaimarca.

Neste trajeto também vimos cenas bastante incomuns, como uma feira de touros onde peruanos e bolivianos compravam animais seguramente sem o mínimo controle sanitário e os levavam inclusive para a bolívia, como nos explicou o senhor que puxava sua aquisição e a quem perguntei do que se tratava aquela aglomeração de pessoas e bois. Outra cena que nos chamou a atenção, foi a de porcos vivos sendo transportados no bagageiro de uma van que sabíamos serem utilizadas como ônibus.







Chegando a Puno, identificamos uma cidade bastante pobre, com construções inacabadas, ruas com pavimento precário e triciclos feitos com mecânica de motocicletas, que serviam de táxi. No trajeto até os barcos que nos levariam às ilhas flutuantes, deparamo-nos com alguma coisa que poderia ser classificado como um carnaval, em plena avenida principal, o que nos obrigou a desviar o caminho, no entanto sem prejudicar nosso objetivo, já que em seguida chegamos ao porto das lanchas. Pagamos as passagens e as tarifas de visita e imediatamente estávamos zarpando, visto que era domingo e havia uma multidão de pessoas peruanas e estrangeiras aproveitando o domingo para visitar os Uros. Os barcos eram motorizados com motores de pôpa de 25 à 40 hp´s, o que os tornavam não muito rápidos, somando-se a isso o fato de o nosso em particular ter problemas no motor o que fazia com que o piloto a cada pouco tivesse que dar partida com a “cordinha”, chegamos bem depois de outros barcos que partiram depois de nós.









No trajeto poucos antes de chegarmos a Puno, tivemos o nosso primeiro contato com a famosa “totora” que viríamos a descobrir tem mil e uma utilidades, sendo as principais a utilização para a formação das ilhas flutuantes, construção de barcos, construção das casas dos nativos, construção dos colchões e esteiras e inclusive como alimento, da qual se como a parte inferior, que é alva, bastante suculenta e sente-se um sabor que se assemelha à água de coco.







Ao voltarmos do passeio estávamos famintos, dado que nosso almoço tinha sido um simples pedaço de “totora” e já eram quase 17:00 horas. Paramos em uma dos inúmeros “restaurantes” instalados em tendas improvisadas e comemos um típico prato altiplânico: Queijo frito, Salada de repolho e tomate, uma espiga de milhos com grãos descomunais e o famoso “chuño”. Para nós que não sabíamos o que era, acabamos tendo uma aula da atendente do “restaurante”, que nos explicou que os incas preservavam as batatas congelando-as primeiro e secando-as depois. Depois de recolher a colheita as estendíam sobre a terra e as deixavam toda a noite expostas ao ar gelado. No dia seguinte, homens, mulheres e crianças extraíam o excesso de umidade pisando-as. Este método se repetia por vários dias até que, já livres de umidade, se secavam e se armazenavam. Os conquistadores logo se deram conta de que as batatas eram um alimento ideal para as massas, ao ver que os trabalhadores das minas sobreviviam graças ao consumo quase absoluto do “chuño”.

Após nosso típico “almuerzo”, seguimos em direção à Bolívia, onde nossa meta era Tiahuanaco. Para isso teríamos que abastecer, já que não o havia feito na Bolívia. Para minha surpresa, descobri que o combustível extremamente barato na Bolívia (+- R$ 1,00 o litro de diesel ou gasolina), no Peru estava quase o mesmo preço do Brasil (+- R$ 1,97). Como tinha levado pouca reserva, botei o galão de reserva e completei o resto em um “grifo” (posto) já na saída de Puno, o qual a exemplo de todos os “grifos” do Peru, utilizam o galão como medida para o combustível. Não é necessário dizer que nenhuma das mais ou menos 8 pessoas a quem pedi sabia quantos litros era um galão.






Chegamos já escuro na cidade de Desaguadero, na fronteira com a Bolívia, quase 19:00h horário local, onde descobrimos que as aduanas Peruana e Boliviana fecham as 20:00 horas, no entanto os fusos horários são diferentes, o que faz com que a aduana boliviana feche na verdade as 19:00 horas do horário do Peru e a peruana fecha as 21:00 horas do horário da Bolívia. Contamos com a ajuda de um “despachante” de rua, que num correria desenfreada foi na frente para solicitar aos bolivianos que aguardassem que estava chegando um grupo de brasileiros para ingressar no país, já que estavam encerrando as atividades. Chegamos logo após o “despachante” e literalmente fomos atendidos graças ao fato de os bolivianos serem pessoas muito amáveis, já que passavam alguns minutos das 20:00h na Bolívia ou 19:00 no Peru ou seja lá que horário fosse. Passaportes carimbados, fomos ao “control de vehiculos” para registrar mais uma vez, a bandeirante, para poder entrar na Bolívia. Claro que todo o ritual da entrada por Puerto Suarez, se repetiu, com copias xerográficas e tudo o mais do que uma boa burocracia não abre mão.

Tudo acertado, rumamos para Tiahuanaco, onde chegamos por volta de 22:00 horas para descobrir uma vila deserta. Demos a volta na praça e vimos a delegacia de policia com luzes acesa o que nos impeliu a descer para perguntar sobre hotéis. Hilariamente, a delegacia estava aberta, com luzes acesas e sem ninguém dentro. Procuramos até ouvirmos som de música onde desci e constatei que era alguma festa daquelas de fim de semana, onde é impossível encontrar alguém sóbrio. Teimosamente perguntei a um senhor que saia da festa onde havia um hotel, ele prontamente sacou algumas miniaturas de estátuas de tiahuanaco que trazia no bolso e queria vender-me, graças à um outro senhor que aparentemente estava mais sóbrio, livrei-me do “borracho” e fui orientado a procurar o “hotel de los mochileros”, que segundo o amigo, estava próximo. Após alguns minutos procurando o dito hotel, desistimos e fomos em busca do “hotel Tiahuanaco”, que segundo informações era muito caro. Após buzinar insistentemente, o proprietário do hotel vem nos atender, nos informando que o preço por pessoa era de Bs. 50,00 com café da manhã. Fiquei extremamente revoltado com aquele abuso, só porque já era noite e queríamos ficar na cidade, ao que o Lucas sensatamente ao meu lado me falou ao pé do ouvido que este preço era aproximadamente R$ 2,00 mais do que a média do que vínhamos pagando nos hotéis por onde passamos. Ainda inconformado fiz com que o dono do hotel baixasse o preço para Bs. 40,00 tendo então ficado ali.