Pedágios do Rio Grande do Sul

Jornal Pioneiro 18 de junho de 2005

Estradas

Uma radiografia do pólo caxiense


Agergs diz que Convias arrecadou R$ 170,4 milhões em 7 anos.


Caxias do Sul - A mais forte dor-de-cabeça do governador Germano Rigotto (PMDB) nos últimos dias passou por minucioso exame de técnicos da Agência Estadual dos Serviços Públicos Delegados (Agergs). Eles exibiram, nesta semana, a íntegra da mais ambiciosa radiografia dos sete anos de pedágios. O documento - baseado em informações oficiais e levantamentos próprios do órgão regulador - faz o diagnóstico: os 191 quilômetros do Pólo Rodoviário de Caxias do Sul não receberam os investimentos exigidos pelo contrato, assim como a concessionária Convias não contabilizou a receita prevista.

Conforme o balanço da Agergs, a empresa arrecadou, em valores atualizados, quase R$ 170,4 milhões nos sete primeiros anos de concessão - o equivalente a 57,8% do total determinado pelo contrato. É esse argumento que a Convias utiliza para se defender das críticas.

- Houve um esforço grande da concessionária em fazer os investimentos mesmo sem ter a receita efetiva. Nesse período, a manutenção das estradas foi uma das grandes conquistas das concessões. Foi importante para que o Estado não ficasse na situação de Minas Gerais, que não tem mais rodovias. E não podemos esquecer dos serviços de resgate, que salvaram vidas - afirma o presidente da Associação Gaúcha das Concessionárias de Rodovias (AGCR), Sérgio Coelho, e ex-diretor-presidente da Convias.

O esforço a que se refere o dirigente, conforme o estudo da agência, custou R$ 96,8 milhões à Convias - ou 67,7% do que deveria figurar na conta investimentos. O reflexo pode ser constatado na própria radiografia da Agergs. O documento revela que a concessionária construiu, por exemplo, apenas três de 11 interseções, retornos e acessos previstos.

- O modelo de concessão é errado. Foi criado de forma impositiva, mas temos uma expectativa de que um pedágio signifique não apenas manutenção e conservação, mas obras - defende o secretário-executivo do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede/Serra), José Adamoli.

O secretário da Associação dos Usuários das Rodovias Concedidas da Serra (Assurcon/Serra), Agenor Basso, reforça:

- O custo-benefício ao usuário não compensa. É por isso que existem insatisfações.

Um outro estudo, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), ajuda a jogar luzes na discussão sobre a qualidade da rodovia. Pesquisadores percorreram, no ano passado, 160 dos 191 quilômetros do pólo caxiense. Chegaram à conclusão de que 62,5% dos trechos têm pavimentação deficiente (veja mapa).
Em outro quesito, o desempenho é melhor: 87,5% dos segmentos contam com avaliação positiva na sinalização.


Para tentar amenizar essas divergências e curar o problema, existe um remédio que Rigotto tem o poder de aplicar. É a revisão das concessões, que deveria ser concluída até 30 de junho, mas o governador já admite estender até o fim do ano. O instrumento - instituído quando o Estado e empreiteiras sentaram à mesa para firmar o acordo que criou os pedágios, em 1998 - serve para corrigir as distorções do contrato.

- Uma concessão mal-planejada pode determinar tarifa muito elevada que se torne insuportável para a população ou tão baixa que não remunere a concessionária. Por isso, a importância das revisões. O contrato não é imutável - explica a presidente da Agergs, Maria Augusta Feldman.