Pedágios do Rio Grande do Sul

De Caxias ao centro do estado, passa-se por seis praças (R$ 56,40) , em menos de 300 km.



Cotidiano

Ciro Fabres -28/07/2005



Da Serra ao Pampa

A primeira viagem que desencavo da memória tinha travessia de balsa. A estrada era de chão batido, um Planalto azul e branco modelo 60 de número 56 - guardei o número até hoje - nos levava a Porto Alegre. A lembrança mais remota dá conta de meu pai a me segurar no colo na descida do ônibus no meio do caminho, pois o carro tinha de estar vazio para a tal travessia noturna do Rio Ibicuí, na região da Campanha. Era um acontecimento.

A paisagem modificou-se desde então, as condições de infra-estrutura deram saltos vertiginosos, como os da russa Yelena Isimbayeva. Hoje, da Serra ao Pampa, muita coisa mudou. Antes de mais nada, há asfalto, ainda que muitas vezes esburacado e perigoso. Depois, ao longo das rodovias, há antenas de telefonia móvel, aparato impensável nos tempos da travessia de balsa.

Por fim, temos hoje as praças de pedágio. E a sanha entreguista das rodovias foi tão feroz que, ao sair-se de Caxias e seguir-se por Farroupilha, Garibaldi, Lajeado, Venâncio Aires, Santa Cruz, Rio Pardo e Pantano Grande, no centro do Estado, mais um curto trecho da BR-290, passa-se por seis praças, em menos de 300 km.

O contra-senso não pára por aí, pois o atual modelo de pedágio, vendido como santo remédio, não é estendido a todo Estado. Quer dizer, as concessionárias ficam só com o filé mignon, porque depois dos tais 300 km percorridos, na direção da Fronteira, cessam as praças, mas ainda há estradas não-pedagiadas em muito boas condições.

Os pedágios até poderiam ter sido cogitados ao tempo das balsas, pois era época, então, de construir-se estradas. Mas não foi, ninguém teve a idéia no balanço daquelas travessias, e guardou-se a mágica para depois de as rodovias estarem prontas, aí sim entregues de mão beijada à iniciativa privada. Tamanha generosidade, tanto faz a época, é de tontear qualquer um.



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